Quando falamos em Guerra Química e Guerra Biológica, automaticamente vem a nossa mente imagens cinzentas de uma guerra apocalíptica, ou até mesmo, cenários de combate com operadores vestindo trajes de proteção e máscaras.
No entanto, a Guerra Química e a Guerra Biológica já existem a bastante tempo, e estão acontecendo nesse momento, enquanto você lê esse artigo.
A diferença entre ambas é simples, enquanto Armas Químicas são compostas por agentes tóxicos, geralmente em gás (podendo estar armazenado em forma líquida ou sólida), Armas Biológicas são organismos vivos, manipulados de forma artificial para determinado uso como arma contra outros seres vivos. Ambos, junto com Armas Nucleares, entram na classificação de “Armas de Destruição em Massa”.
Atacada por um fluxo terrível de fogo consumidor, sua carne caiu de seus ossos, como resina de uma tocha de pinho, uma visão terrível de se ver. Eurípides, Medéia, 431 a.c.
Essa passagem da tragédia grega Medéia de Eurípedes, que narra o uso do “Fogo Grego”, uma substância análoga ao napalm, possivelmente feita de uma mistura de petróleo, resinas vegetais e gordura animal, o que o tornava uma mistura extremamente espessa e inflamável nos mostra como agentes químicos são um artifício de longa data para o uso bélico.
Também do século V a.c. existem relatos de que os Espartanos ateavam fogo em misturas tóxicas no campo de batalha, gerando uma fumaça que desorientava os inimigos no combate.
Sem dúvida o emprego mais emblemático dessas Armas de Destruição em massa em cenários de guerra, foi na Primeira Guerra Mundial, onde foi feito um amplo uso de Armas Químicas em campo.
Embora desde 1899 o uso de tais métodos para a guerra tenha sido proibido pela Convenção de Haia, e em 1925 pelo Protocolo de Genebra, em diversos momentos do séc XX, e em diversos cenários operacionais, Armas Químicas foram utilizadas deliberadamente e de forma massiva.
Outro exemplo clássico é o uso do Napalm e de desfoliantes químicos como o Agente Laranja pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnam, de forma que o Agente Laranja mostrou aos Estados Unidos uma cruel face do uso de Armas Químicas, os efeitos colaterais na própria tropa.
Devido a extrema desvantagem das forças Americanas em território Vietnamita devido à camuflagem dos Vietcong na densa vegetação, os Estados Unidos decidiu utilizar uma mistura química a base de herbicidas para acabar com a vegetação que dava tal cobertura ao inimigo (o que mostra que Armas Químicas nem sempre são usadas com o intuito de aplicação direta em seres humanos).
Devido a pressa da utilização do composto e de negligência por parte da empresa fabricante, o Agente Laranja foi produzido sem uma purificação adequada, o que causou extremos efeitos colaterais, deixando sequelas severas nos próprios soldados americanos que estavam combatendo naquela região depois que voltaram para casa. Enfermidades essas que variam de câncer, malformações congênitas, e até mesmo anencefalia nos filhos desses combatentes. Porém Armas Químicas não deixaram de ser utilizadas, pelo contrário, a proliferação desse tipo de arma se estendeu a milícias e grupos terroristas, que procuram de qualquer maneira conseguir tais armamentos, já que existem abundantes depósitos remanescentes da guerra fria.
Entre os ataques recentes se utilizando de armas químicas se destaca o Ataque de Gás Sarin do Metrô de Tokyo (1995), e o uso desse mesmo gás contra civis na Guerra Civil da Síria, em diversos ataques ocorridos entre 2013 e 2017.
Quanto a Guerra Biológica há relatos de que a 3000 anos atrás, vítimas da “praga” eram conduzidas compulsoriamente a territórios inimigos, para espalhar morte e desespero. Outros relatos mais detalhados datados da Idade Média, e que são amplamente mostrados em filmes, nos contam sobre corpos em decomposição sendo catapultados para dentro das cidades em cerco, contam também, como esses corpos (mutas vezes infectados pela “peste”) eram usados para enfraquecer a moral inimiga.
Ações parecidas foram realizadas nos anos 40, quando a Força Aérea Imperial Japonesa bombardeou a população Chinesa com caixas de cerâmica contendo peste bubônica.
A Guerra Biológica Ofensiva, incluindo produção em massa, armazenamento e uso de Armas Biológicas, foi proibida pela Convenção de Armas Biológicas de 1972. A lógica por trás deste tratado, é evitar uma proliferação biológica que possa resultar em um grande número de vítimas civis e causar sérias perturbações na infraestrutura econômica e social. Muitos países, incluindo os signatários da Convenção de Armas Biológicas, atualmente realizam pesquisas sobre defesa ou proteção contra Guerra Biológica.
Apesar de não terem sido usadas tão amplamente em cenários operacionais quanto as Armas Químicas, Armas Biológicas tem se mostrado um perigo gigantesco e foi um dos principais fatores que levaram à invasão Americana do Iraque em 2003, invasão essa decorrente do resultado de um grande trabalho de inteligência, entre eles o caso “Curveball”, encabeçado pelo BND (Agência de Inteligência Alemã), que através de desertores do regime de Saddam Hussein, confirmou que o país não parou de produzir Armas Biológicas depois da guerra do Golfo (1991), e além disso, continuou a conduzir experimentos fatais em humanos até 1994.
Com a não-cooperação do regime de Saddam com os inspetores da ONU, e o recente histórico da aplicação de armas biológicas em bombas R-400 e mísseis SCUD, assim como a suspeita de envolvimento nos ataques com Antrax em 2001 nos EUA (onde cartas contendo um pó com o agente biológico foram enviadas para várias pessoas dentro dos EUA), não restou outra alternativa a não ser uma invasão total do Iraque e consequentemente a deposição e execução de Saddam Hussein.
A aplicação tática para uso militar de Armas Biológicas tem um fator significativo, visto que levaria dias para um ataque ser eficaz e, portanto, pode não parar imediatamente uma força adversária.
Alguns agentes biológicos têm a capacidade de transmissão de pessoa para pessoa através de gotículas respiratórias, logo esse recurso pode, assim como as Armas Químicas, se provar um “tiro no pé”, pois os agentes podem ser transmitidos por populações indesejadas, incluindo forças neutras ou até amigas.
Já o potencial de destruição de uma Arma Biológica, é muito superior ao de uma Arma Química, dado ao modo de proliferação da mesma, que é totalmente independente e naturalmente replicante, tornando a Guerra Biológica um recurso amplamente estratégico.
Recentemente, temos sentido na pele os efeitos de um Evento Biológico, sim, o Covid-19 despertou as reações mais características de uma guerra desse tipo, de baixa intensidade, e de longa duração, onde o front é em todo lugar; na mídia, na economia, nos hospitais e nas nossas próprias casas.
Independente de ser ou não uma arma biológica, o uso estratégico da pandemia e do vírus é facilmente notado, principalmente pelo Governo Chinês.
O Laboratório Nacional de Biossegurança de Wuhan está alojado nas instalações militares chinesas “Wuhan Institute of Virology”, a 32 Km do “Wuhan Seafood Market”, onde supostamente teria sido o início da infecção.
Além disso, acredita-se que o Programa de Guerra Biológica da China esteja em um estágio avançado que inclua recursos de pesquisa e desenvolvimento, produção e armas.
A estratégia nacional de fusão civil-militar chinesa, decorrente das reformas militares de 2016 do Exército Chinês, cita a biologia e as pesquisas biológicas como uma prioridade, afinal, armas desse tipo tem como principal efeito desde a idade média, de enfraquecer a moral do inimigo, e causar o medo e pânico na população, a tornando facilmente controlável e fragilizando as estruturas sociais e econômicas, deixando um cenário extremamente propício para um tipo de guerra totalmente assimétrico, sem a necessidade de colocar nenhum soldado no campo de batalha, e posteriormente para um total controle econômico e social – a arte de vencer, sem desembainhar a espada.
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