Tribos, Gangues e Terroristas
O lado sombrio de uma organização.
“Toda convenção respeitável tem sua versão sombria, uma manifestação falsa ou maligna, em que nobres princípios são praticados – mas de uma forma obscura que vira do avesso meios e fins. Máfias e gangues criminosas vivem sob rigorosos e sofisticados códigos de lealdade, disciplina e honra. Assim como organizações terroristas. Isso torna seus membros guerreiros? Será que esses grupos praticam o Ethos do Guerreiro? Quando “honra” não tem honradez?”
Diz Steven Pressfield, em seu livro: O Espírito do Guerreiro (p. 22).
Existe Diferença?
Segundo Pressfiel, precisamos entender a natureza dessas 3 organizações para entender a diferença entre elas e entender também quando um ato de verdadeira honra acontece e por que.
Tribos, gangues e terroristas são termos que muitas vezes são usados de forma intercambiável, mas na realidade existem diferenças significativas entre eles.
Neste artigo, explicaremos a diferença entre esses grupos e as implicações que essa distinção tem.
Tribos
Tribos são grupos de pessoas que compartilham uma cultura, tradições e muitas vezes um território. Muitas vezes, as tribos são compostas por pessoas que têm laços familiares ou ancestrais comuns.
As tribos podem ser nômades ou sedentárias, e muitas vezes têm uma estrutura social hierárquica. As tribos são diferentes de outras formas de grupos sociais porque muitas vezes são autossuficientes e têm um forte senso de identidade cultural.
Tribos existem apenas para si próprias e são ligadas a terra e seguem um código de honra próprio.
As tribos existem desde os tempos antigos, e ainda hoje são uma parte importante da sociedade humana. Em muitas culturas, as tribos são consideradas como unidades fundamentais da sociedade, e são muitas vezes governadas por chefes tribais ou anciãos.
Uma das características mais importantes das tribos é a sua coesão social. Os membros de uma tribo geralmente têm um forte senso de identidade e pertencimento, e trabalham juntos para atender às necessidades e interesses comuns. A coesão social é frequentemente reforçada por meio de rituais, crenças e práticas culturais compartilhadas.
Pressfield diz que que o exército americano vem treinando homens e mulheres jovens para torná-los uma tribo devido a esse espirito de guerreiros e proteção que transforma esse tipo de tribo em forças de combate formidáveis.
Gangues
Por outro lado, gangues são grupos de pessoas que se unem para alcançar um objetivo comum, muitas vezes o crime organizado.
As gangues muitas vezes têm um líder, regras e códigos de conduta, e são caracterizadas por atividades ilegais, como tráfico de drogas, roubo e extorsão.
Muitas vezes, as gangues são formadas em áreas urbanas pobres e desfavorecidas, e muitas vezes têm uma hierarquia complexa.
As gangues também podem ser conhecidas por sua violência e intimidação.
Quem nunca ouviu falar do tribunal do tráfico? Gangues mantem o poder pelo medo e mesmo parecendo que possuem um código de honra, não se poderia se dizer que é o lado sombrio da honra.
Podem ter motivações diversas, desde questões políticas, econômicas e sociais e na maioria das vezes são atividades criminosas como tráfico de drogas, roubo, extorsão e assassinato.
Muitas vezes, esses grupos são formados por jovens que vivem em comunidades carentes e que encontram nas gangues um senso de pertencimento e proteção.
Muitos jovens que fazem parte de gangues têm histórias de abuso e negligência por parte dos pais ou responsáveis.
Além disso, a cultura do crime e da violência presente em algumas comunidades pode influenciar os jovens a ingressarem em gangues.
Muitas vezes, esses grupos oferecem uma sensação de poder e respeito que pode ser atraente para jovens que se sentem desvalorizados e excluídos.
“Assim, a mentalidade tribal não se furta a abraçar o conceito de guerra irregular, levando isso ao limite, ao terrorismo e além. Se o inimigo é maior, mais forte e tecnologicamente mais avançado do que nós – pensa a turba/a gangue/o terrorista –, justifica-se usar todo e qualquer método para atacá-lo.”
Pressfield, Steven. O Espírito do Guerreiro (p. 24).
Terroristas
Terroristas são grupos que usam a violência e o medo para alcançar objetivos políticos, religiosos ou ideológicos.
Os terroristas muitas vezes têm uma agenda política ou religiosa, e acreditam que a violência é necessária para alcançar seus objetivos.
Os terroristas muitas vezes atacam alvos civis e não militares, e podem realizar ataques suicidas.
Os ataques terroristas podem ser uma forma de protesto, tentativa de influenciar a opinião pública, ou como uma forma de retaliar contra governos ou instituições que consideram opressoras.
Enquanto tribos e gangues podem ser formadas espontaneamente, muitas vezes devido a uma necessidade de segurança e proteção, os grupos terroristas são normalmente organizados e hierárquicos.
Enquanto as gangues muitas vezes são formadas em áreas urbanas pobres, os grupos terroristas podem ser encontrados em todo o mundo, muitas vezes em áreas onde há conflitos políticos ou religiosos.
“Organizações criminosas e terroristas praticam códigos de honra tribais, mas não praticam o Ethos do Guerreiro. São “tribos das sombras”. Não são guerreiros.
Na prática do terror, na verdade, a organização terrorista aproveita o fato de o inimigo abraçar o Ethos do Guerreiro para usá-lo contra ele.
De que maneira? Violando o código de honra tribal do guerreiro da forma mais chocante e extrema: isto é, atingindo alvos civis, usando mulheres e crianças como escudos etc.
O objetivo do terrorista ao fazer isso é violar e aterrorizar o senso de honra do inimigo, para que este conclua que “esse povo é fanático, louco” e decida ou se render às exigências do terrorista ou enfrentá-lo, descendo ao nível moral do inimigo.”
Pressfield, Steven. O Espírito do Guerreiro (pp. 24-25).
É importante entender as diferenças entre esses grupos, pois cada um pode apresentar diferentes ameaças e desafios para a segurança pública.
Enquanto tribos são geralmente autossuficientes e não apresentam uma ameaça significativa para a sociedade, as gangues e os grupos terroristas são conhecidos por suas atividades ilegais e violentas.
O Que Muda com a Honra?
“Quando esse aspecto da cultura da honra é transplantado para uma doutrina criminosa, política ou extremista religiosa – como máfia, Irmandade Ariana, Al-Qaeda –, o passo seguinte é a desumanização e demonização do inimigo.
O Ethos do Guerreiro, pelo contrário, exige respeito pelo inimigo. Ao adversário é dada deferência como combatente e defensor de seu território e valores.
Pressfield, Steven. O Espírito do Guerreiro (p. 24).
Essa é a diferença entre guerreiros e o resto. Possuem essa honra, esse espirito guerreiro que o faz diferente de outros grupos.
O sentimento de pertencimento ao grupo desenvolvido em cursos de operações especiais pode exemplificar isso. As irmandades criadas diante do trauma coletivo sofrido junto em situações adversas transformas esses soldados em irmãos.
“Coitadinhos ou coitadinhas não devem ir a campo de batalha. Só atrapalham. Alguém gostaria de ter um samurai chorando no meio da batalha? Tendo crise de nervos? Com depressão? Ou precisando de um cafuné? Sendo tão inofensivo que não suporte um comando enérgico ou uma advertência verbal? Este não é um guerreiro. É uma flor. Deve estar num vaso e servir de ornamento para ninguém tocar. Não resiste a mais leve brisa da manhã.”
― Jorge Kishikawa, ShinHagakure – Pensamentos de um Samurai Moderno – 3ª Edição Volume 1
