Para escapar da morte a ele tria que acertar uma fecha em uma maça que estava sobre a cabeça de seu próprio filho.

Tiranos e heróis sempre existiram e muitas histórias fantásticas foram esquecidas.

O que você faria se seu soberano o mandasse fazer reverência a um chapel em uma praça?.

Conta o historiador da Confederação Suíça Aegidius Tschudi, que os imperadores Habsburgos lutavam pelos domínios de Uri e, para testar a lealdade do povo aos imperadores, Hermann Gessler, um governador austríaco tirano, pendurou num poste um chapéu com as cores da Áustria, numa praça de Altdorf. Todos que por lá passassem teriam de fazer uma saudação respeitosa como prova do seu respeito. O chapéu era guardado por soldados que se certificariam que as ordens do governador fossem cumpridas.

Um dia, Guilherme e seu filho passaram pela praça e não saudaram o chapéu. Prenderam-no imediatamente e levaram-no à presença do governador que, reconhecendo-o, o fez, como castigo, disparar uma fecha com uma besta em uma maçã na cabeça do filho. Tell tentou demover Gessler, sem sucesso; o governador ameaçaria ainda matar ambos, caso não o fizesse.

Tell foi assim trazido para a praça de Altdorf, escoltado por Gessler e os seus soldados. Era o dia 18 de Novembro de 1307 e a população amontoava-se na expectativa de assistir ao castigo (e, sobretudo, ao seu culminar). O filho de Guilherme foi atado a uma árvore, e a maçã foi colocada na sua cabeça. Contaram-se 50 passos. Tell carregou a besta, fez pontaria calmamente e disparou.  A seta atravessou a maçã sem tocar no rapaz, o que levaria a população a aplaudir os dotes do corajoso arqueiro.

Um homem de valor pensa em si mesmo em último lugar.

A história de um herói bem sucedido no tiro contra um pequeno objecto na cabeça de uma criança e posterior assassinato do tirano que o obrigou a fazê-lo, contudo, é um arquétipo presente em vários mitos germânicos. O tema aparece também em outras histórias da mitologia nórdica, em particular na história de Egil, na saga de Thidreks (de Teodorico de Verona, possivelmente com inspirações realistas em Teodorico, o Grande), bem como na de Inglaterra e Holstein.

O Caminho do Herói

Não obstante, Guilherme trazia uma segunda seta. Gessler, ao vê-la, perguntou por que ele a trazia. Tell hesitou. Gessler, apressando a resposta, assegurou-lhe que se dissesse a verdade, a sua vida seria poupada. Guilherme respondeu: “Seria para atravessar o seu coração, caso a primeira seta matasse o meu filho”.

Indignado, Gessler mandou o rebelde para a prisão alegando que dignaria a sua promessa deixando-o viver — mas preso, no castelo de Küsnacht. Guilherme foi levado acorrentado de imediato para um barco em Flüelen, onde esperou que Gessler e seus soldados embarcassem. Não muito distante do porto, deu-se uma tempestade. O Föhn, um vento do Sul, causava ondas tão altas que dificultou a viagem, praticamente arremessando o barco contra as rochas. Os que lá viajavam, assustados, gritaram: “Só Guilherme Tell nos pode salvar!”. Gessler libertou Tell, que conduziu barco em segurança ao sopé da Montanha Axenberg, perto de uma rocha chamada Tellsplatte.

Quando amarrou, Tell tirou uma lança a um soldado, saltou do barco e, empurrando-o com os pés, fugiu pelo cantão de Schwyz. Gessler conseguiu sobreviver à tempestade e chegou ao castelo de Küsnacht nessa mesma noite. Tell se escondeu em arbustos num beco que levaria à residência do governador. Assim que Gessler e os seus soldados apareceram, Tell matou-o com uma seta da sua besta, libertando o país da tirania do governador. Segundo a lenda, este evento marcou o início a revolta que ocorreu a 1 de Janeiro de 1308.

A lenda de Guilherme Tell aparece inicialmente no século XV, em duas versões diferentes. A primeira, encontrada, por exemplo, numa balada popular da década de 1470 e mais tarde nas crónicas de Melchior Russ de Lucerna (1482-1488), retrata Tell como o actor principal das lutas independentistas dos cantões da fundação da Antiga Confederação Suíça; a segunda, encontrada em Weisse Buch von Sarnen de 1470, retrata Tell como uma personagem menor num complô contra a casa dos Habsburgos dirigido por outros. Aegidius Tschudi, um historiador católico conservador, fundiu estas duas perspectivas no mito sumarizado acima, em 1570.

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