No dia 18 de novembro de 1978, 909 pessoas pediarm a vida na Guiana por um cara que atribuía a Jesus Cristo o papel de fundador do comunismo.

304 crianças e adolecentes estávam entre as vítimas.

Quase todas morrem por envenenamento por ingestão de cianeto..
 

3 dias após o maior a notícia chegou ao Brasil, numa terça-feira, 21 de novembro de 1978.

918 pessoas, incluindo 304 crianças e adolescentes, haviam morrido em Jonestown, assentamento agrícola erguido no coração da selva guianense por integrantes da seita , Templo do Povo.

Entre pequenas casas de madeira, os fiéis jaziam de bruços sobre a grama, abatidos pela ingestão de refresco envenenado. Os corpos em decomposição, obrigaram os soldados a vestirem máscaras para enfrentar o fedor que impregnava o ambiente. Apenas 87 moradores da comunidade sobreviveram à tragédia, híbrido de suicídio coletivo com assassinato em massa.

O responsável?

Jim Jones nasceu em Creta, uma pequena cidade do Condado de Randolph, no interior do estado de Indiana, Estados Unidos. Filho de James Thurman Jones (1887–1951), um veterano da Primeira Guerra Mundial, e Lynetta Putnam (1902–1977), que acreditava que tinha dado à luz um messias. Ele era descendente de irlandeses e de galeses. 

Em 1954, Jones criou a sua própria igreja em uma área da cidade racialmente integrada. A seita recebeu vários nomes até adquirir a denominação definitiva de Peoples Temple Christian Church Full Gospel (Templo dos Povos), em 1959.

Através do Templo, Jim Jones adquiriu notoriedade e apoio político e da mídia em Indianápolis, contribuindo para por fim à segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais. Em 1960, o prefeito democrata Charles Boswell o nomeou como diretor local da comissão de direitos humanos. No entanto, Boswell e Jones acabaram entrando em atrito quando o líder do Templo foi agredido em uma reunião do NAACP.

No início da década de 1960, o Templo do Povo era um sucesso. Com poucos anos de existência, a congregação em Indianápolis (EUA) já aglutinava cerca de 2 mil fiéis, seduzidos por um discurso que fundia o cristianismo pentecostal aos princípios socialistas e a luta contra o racismo. Jones, que estivera em Havana nos primeiros meses de 1960, gabava-se de ter conhecido Fidel Castro e atribuía a Jesus Cristo o papel de fundador do comunismo. Ao lado da mulher, Marceline Jones, assumiu a custódia de três crianças coreanas, uma garota indígena e um bebê negro – o primeiro a ser adotado por um casal branco no Estado americano da Indiana.

Depois de um discurso em 1961 sobre o apocalipse nuclear e depois de listar Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em um artigo de janeiro de 1962 na revista Esquire, como um lugar seguro em uma guerra nuclear, Jones viajou com a sua família para a cidade com a ideia da criação de um novo local para o Templo. Em seu caminho ao Brasil, Jones fez sua primeira viagem para a Guiana, então ainda uma colônia britânica.

Após chegar em Belo Horizonte, Jones alugou uma modesta casa de três quartos. Ele estudou a economia local e a receptividade das minorias raciais com a sua mensagem, embora o idioma tenha permanecido como uma barreira. Jones tomou cuidado para não retratar a si mesmo como um comunista em território estrangeiro e falava de um estilo de vida comunitário apostólico e não de Castro ou Marx.

No entanto, a falta de recursos na região fez com que Jones e seus seguidores se mudassem para o Rio de Janeiro em meados de 1963, onde eles trabalharam com os pobres em favelas cariocas. Jones também explorou o sincretismo das religiões brasileiras.

Jim gabava-se de ter conhecido Fidel Castro e atribuía a Jesus Cristo o papel de fundador do comunismo.

“Comecei a ficar grilado, desconfiava que fosse um espião. A única informação que consegui obter era a de que ele recebia mensalmente uma verba do governo americano, como capitão reformado da Marinha”

Relatou ao Jornal do Brasil o engenheiro aposentado

Em junho daquele ano, membros da seita entraram na selva guianense e iniciaram a construção do Projeto Agrícola do Templo do Povo, mais conhecido como Jonestown. A empreitada deu origem a um boato: para escapar do governo americano, Jones estaria planejando um retorno ao Brasil.

Num sermão gravado em outubro de 1974, o reverendo, bastante irritado, respondeu às acusações: “Se estivéssemos fugindo, nós jamais iríamos ao Brasil, aquela ditadura militar fascista. Mas as pessoas não enxergam nem um palmo adiante, o que esperar desses imbecis?”.

Nos anos seguintes, Jones dividiria sua rotina entre estadias na Guiana e excursões proselitistas aos EUA. No dia 7 de fevereiro de 1977, discursando em uma igreja lotada na Filadélfia, explicou à plateia os supostos objetivos de Jonestown: permitir aos fiéis que se refugiassem da guerra nuclear e das ditaduras. “Nós temos um Hitler no Brasil”, opinou. “Um Hitler comandando o Brasil agora mesmo, o general Ernesto Geisel”.

Cinco meses depois, o reverendo se mudou para a Guiana em caráter definitivo. Quase mil fiéis o acompanharam.

Embora o Templo do Povo anunciasse Jonestown como um paraíso terrestre, na prática o assentamento lembrava um campo de concentração.

Trabalho escravo, cárcere privado, racionamento de comida e sessões de tortura marcavam o dia a dia da comunidade. Moradores que desobedecessem às ordens de Jones eram submetidos a espancamentos, estupros corretivos e suturas sem anestesia. Às vezes, eram dopados à força e trancados numa caixa subterrânea, onde perdiam os sentidos.

Em muitas ocasiões, os fiéis também tinham que passar as noites em claro, discutindo intrigas da seita ou escutando pregações do reverendo. Nessas madrugadas insones, tomadas por um constante estado de alerta, as menções ao Brasil eram recorrentes, de acordo com os arquivos do grupo.

No dia 20 de maio de 1978, Jones discorreu brevemente sobre a atuação de guerrilheiros no Nordeste brasileiro. Três meses depois, em 25 de agosto, proferiu um longo discurso sobre as eleições que empossariam, por voto indireto, o general João Figueiredo, o último presidente do regime militar brasileiro. No dia 9 de setembro, durante uma explanação sobre a história do fascismo, citou Plínio Salgado e o movimento integralista. Em 31 de outubro, saudou as greves operárias que tomavam o ABC paulista.

As profecias do reverendo pareciam ter se concretizado quando Leo Ryan, deputado federal pelo Partido Democrata da Califórnia, anunciou uma visita à Guiana. Políticos, repórteres e ex-fiéis se uniram ao congressista numa comitiva destinada a checar o que se passava em Jonestown.

O grupo chegou ao assentamento agrícola numa sexta-feira, 17 de novembro, e foi recebido com uma festa de boas-vindas. Ryan, emocionado, disse ao microfone: “Ao conversar com vocês, percebi que esse lugar foi a melhor coisa que já aconteceu em suas vidas”.

O veredicto foi calorosamente aplaudido. A comitiva, entretanto, logo percebeu que o clima de alegria era falso: na tarde de sábado, 16 moradores pediram a Ryan que os levasse de volta para os EUA.

Hostilizados pelo reverendo, os forasteiros e dissidentes partiram rumo à pista aérea de Port Kaituma, pequena vila a 10 quilômetros de Jonestown. Antes de embarcarem no avião que os aguardava, foram atingidos por uma rajada de balas.

Além do deputado Ryan, mais quatro pessoas morreram na emboscada: Don Harris, correspondente da NBC; Robert Brown, cinegrafista da mesma emissora; Greg Robinson, fotógrafo do San Francisco Examiner; e Patricia Parks, uma das moradoras que tentavam abandonar a comunidade.

Enquanto isso, no pavilhão central de Jonestown, o reverendo celebrava seu último culto. “Eles vão torturar nossas crianças aqui. Eles vão torturar nosso povo. Eles vão torturar nossos idosos”, advertiu. E, dirigindo-se às enfermeiras da seita, disse: “Providenciem os medicamentos”. Uma mistura de cianureto com refresco de uva foi distribuída aos fiéis.

Bebês, crianças e adolescentes morreram primeiro, envenenados pelos pais – Charles Garry Henderson, um recém-nascido de dois meses, foi a mais jovem vítima do massacre. Idosos perderam a vida logo depois, executados pelas enfermeiras – Amanda Poindexter, uma ex-empregada doméstica de 97 anos, foi a vítima mais velha. Em seguida, animais de estimação foram sacrificados. Os adultos sucumbiram por último, caminhando até o púlpito para ingerir a solução.

“Não se entreguem às lágrimas e à agonia”, ordenou Jones aos seguidores, que choravam em pânico. “A morte é apenas uma viagem para outro plano. Estamos cometendo este ato de suicídio revolucionário em protesto contra um mundo desumano.”

Quando o líder atirou contra a própria cabeça, já não havia mais nenhum discípulo vivo no local. A mulher do reverendo estava entre os mortos, assim como dois de seus filhos adotivos, Lew e Agnes Jones. O casal que se juntara à família em Belo Horizonte, Jack e Rheaviana Beam, também havia bebido do veneno.

A lista de falecidos incluía ainda Patty Cartmell, que coordenara as atividades do Templo durante a estadia de Jones no Brasil, e Maria Katsaris, que dias antes, numa conversa telefônica com o irmão, dissera ter visitado o país a serviço da seita. Aproximadamente 70% dos mortos eram negros.

Em meio aos cadáveres, investigadores do FBI encontrariam pelo menos três notas de suicídio. A mais conhecida delas, anônima, continha um apelo: “Reúnam todas as fitas, todos os escritos. A história deste movimento deve ser examinada com cuidado e compreendida em todas as suas incríveis dimensões”. E finalizava: “As trevas caem sobre Jonestown em seu último dia na Terra”.

Fonte: BBC, History, Wikipédia