Cutelaria. O que é isso?
Por Gabriel Tres Agosot 19, 2016
A cutelaria, a arte de fazer lâminas, é praticada desde a idade da pedra, quando homens do neolítico lascavam pedra para construírem instrumentos de caça primitivos.
Passando pelos séculos, civilizações que dominavam a melhor tecnologia de fabricação de lâminas, como facas, espadas e lanças obtiveram vantagens em campo de batalha, ampliando assim seus impérios.
Espadas famosas como o gládio romano ou as katanas japonesas deixaram suas marcas na história, transformando a cena política e cultural de suas épocas. Em todos os cantos do mundo, foram desenvolvidos inúmeros modelos de instrumentos do cortes, com objetivos diversos, como cortes finos e profundos até perfurações de armaduras espessas.
O cuteleiro, responsável por manufaturar estas lâminas, é tratado em algumas culturas como uma figura mística, por séculos foram mestres em metalúrgica empírica, desenvolvendo metais cada vez mais resistentes, conseqüentemente armas mais eficazes.
Artesão japonês em sua oficina ( Fonte: Internet)
Mesmo com o avanço das tecnologias bélicas, as laminas continuam sendo parte vital do equipamento de um soldado, na forma de facas, canivetes, machados e facões, sendo essas as ferramentas mais confiáveis em campo de batalha, e para ter tal confiabilidade, são empregadas tecnologias de ponta em sua construção.
O domínio da tecnologia de fabricação de aços já foi a diferença entre a ascensão e a queda de impérios, hoje em dia, a disputa está entre fabricantes, que estão em busca continua do aço perfeito para cutelaria.
A seguir vamos ver algumas categorias e exemplos de aços utilizados na cutelaria moderna, e como são avaliados e tabelados.
Os aços são tabelados de acordo com sua composição química,por órgãos como a American Iron Institute (AISI), e em alguns casos, levam o nome patenteado pela empresa que o criou. Suas características variam de acordo com os elementos químicos presentes em sua estrutura, podemos ter um aço somente com ferro e carbono ou um aço-liga com vanádio e cromo, aumentando suas propriedades mecânicas. De forma geral os aços são classificados como mostra a figura abaixo
Tipos de Aços
– Aços : O aço é a ligação dos elementos Ferro + Carbono, com uma proporção de carbono de no Maximo 2,1% na estrutura.
– Aços ao carbono: é o aço com sua estrutura básica de Ferro + Carbono, sem outros elementos em quantidades significativas. Se subdivides se em outros três grupos, os de baixo teor de carbono ( SAE 1010;SAE 1020) impróprios para cutelaria devido ao baixo teor de carbono. Os de médio carbono ( SAE 1045; SAE 1060), indicado para facas que não exigiram muita resistência ou vida útil longa. Os aços ao carbono com alto teor de carbono ( SAE 1080; SAE 1090) que são utilizados na cutelaria, este por sua vez, mais utilizados entre os aços ao carbono, devido a sua boa retenção de fio e resistência mecânica,tendo como desvantagem a oxidação relativamente rápida caso não for aplicado nenhum agente protetivo em sua superfície ( pintura ou óleo).
Aços ligas: Sua composição é similar aos aços ao carbono com a diferença que nos aços ligas, são adicionados elementos de liga, como Cromo, molibdênio, vanádio entre outros , que aumentam as propriedades mecânicas do aço, como a melhor retenção do gume de corte e maior tenacidade da lamina (resistência a impactos e alavancas).
– Aços ferramentas: São aços com altos teores de elementos, colocados em sua estrutura a fim de melhorar as características do aço, como aumento da resistência ao desgaste, aumento da resistência á impactos entre outros, são aços comumente utilizados para fazer estampos de prensas, guilhotinas e moldes. Alguns exemplos desses aços são : AISI D2 ; AISI 420; SAE 52100 e Etc.
– Aços inoxidáveis: São aços com alta concentração de cromo e níquel, que retardam o processo de oxidação do aço, e aumentam suas características mecânicas, como melhor retenção de corte e maior dureza da lamina. Seu preço é relativamente mais caro devido aos elementos presentes na composição. Alguns exemplos dos aços mais comuns na cutelaria são: AISI 420 e AISI 440C.
Como saber se o aço é bom ou não?
Apenas com o olhar é praticamente impossível saber se o aço é de qualidade ou não, para saber, é necessário conhecer a procedência do material, com isso você saberá qual aço foi utilizado. Porém mesmo se o aço for de qualidade, se o cuteleiro não soube realizar a fabricação correta, a lâmina pode se quebrar ou não reter o fio, por isso, procure cuteleiros ou empresas reconhecidas e com experiência no mercado.
Dureza dos aços
Cada aço tem sua característica, definida pela sua composição, e cada aço necessita de um tratamento térmico especifico, onde a estrutura do aço é modificada através do aquecimento e resfriamento do aço. Para saber a dureza final do aço, é utilizado um aparelho chamado durômetro, que afere a dureza e a classifica em escalas como Rockwell (HRC) ou Brinell (HRB). Essas escalas definem a dureza do aço, assim podemos ter uma idéia de sua resistência a tração. Sempre lembrando que quanto mais duro o aço, menos tenaz ele é, ou seja, sua resistência ao impacto é menor.
Cuidados com sua lâmina
Como vimos anteriormente, aços ao carbono e aços liga, tendem a oxidar (enferrujar), sendo necessário a aplicação de óleos ou desengripantes para evitar a oxidação. No caso de aços inoxidáveis não se faz necessário. Na sua lavagem não é aconselhável utilizar abrasivos (lado verde das esponjas de cozinha) ou esponjas de aço. Alguns mitos como lavar com água quente, cortar cebola, passar limão tira o fio, são falsos, porém cortar alimentos em cima de tabuas de vidro ou granito pode sim tirar o corte da lamina devido ao vidro e a pedra serem mais duros que o aço.
Considerações finais.
A cutelaria modernizou-se muito nas ultimas décadas, novos materiais são desenvolvidos a cada dia a fim de atender os clientes mais exigentes. As laminas sempre estarão presentes no dia a dia do homem, sendo uma das ferramentas mais confiáveis já construídas por ele, seja como uma faca utilizada para cortar alimentos até uma baioneta utilizada para batalha.
“È muito pouco o que uma faca necessita e bastante elementar a sua manutenção, em troca de tudo o que de positivo possa oferecer.”
(Grande Enciclopédia Armas de Fogo, 1988.)