Você deve ter visto um vídeo de um policial que é perseguido por uma agente com uma faca em punho. Esse vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais juntamente com várias analises e não poderíamos deixar de fazer a nossa.

Não sabemos o que ocorreu no local e muito menos teceremos julgamento acerca de quem tem ou não razão. A questão aqui é puramente didática para refletirmos o quanto nos achamos preparados para um confronto seja ele qual for.

Não existe essa de 100% de acerto pois não sabemos quanto de “animus necandi” tem o outro lado e diante disso só podemos reagir ao que acontece.

Como será nossa reação? Como você treina? Como você reagiria?

Vamos a analise do vídeo abaixo e após vamos entrar em uma conversa sobre o que podemos buscar mudar em nosso comportamento de forma a mitigar os danos se nos encontrarmos em uma situação semelhante.

Observem que o agressor mesmo baleado, não soltou a faca, estava determinado a combater. O “animus necandi” dele estava alto.

Segundo David Buss um pesquisador chefe do Departamento de Psicologia Evolutiva da Universidade do Texas, que fez o maior estudo já realizado sobre fantasias homicidas, a capacidade de tirar a vida é uma característica comum a todos os seres humanos – resultado da seleção natural. Sua equipe fez uma inédita análise de 429729 relatórios do FBI, a polícia federal americana, e transformou os resultados no livro The Murderer Next Door (“O Assassino Mora ao Lado”). Então não subestime qualquer indivíduo ou situação em que você esteja envolvido, pois ele pode ter esse instinto aflorado e você despertar nele essa vontade.

Sobre esse vídeo, Humberto Wendling policial federal e autor do livro Sobrevivência policial escreveu em seu facebook:

Encarar a ameaça, no sentido de fixar a visão, é algo comum numa situação de ataque, ainda que não se consiga ver detalhes em razão do estresse.

Só vemos a partir do momento em que o agressor parte pra cima com a faca em punho buscando uma forma de ferir o policial. Esse por sua vez corre de costas buscando ficar de frente ao agressor e teve várias possibilidades de disparar sua arma mas não o fez. Talvez esperasse que o agressor cessasse a agressão diante da visualização da arma? Quantas vezes pensamos assim? Talvez ele nem tenha pensado nisso e é claro estamos agora tranquilos e podemos então fazer alegações sobre isso.

“Na cena, o policial consegue escapar depois de esbarrar na cerca. Ele corre, olha pra trás e saca a arma. Contudo, a ideia de ter que atirar de frente para o alvo faz com que ele tente se virar enquanto corre. O resultado é que as pernas não conseguem acompanhar o ritmo da corrida. O agressor faz novo contato e o policial tropeça nas próprias passadas.” continua Humberto Wendling.

Após o policial conseguir disparar contra o agressor vemos outras pessoas surgindo na cena.

Uma mulher aparece e vai ao encontro do agressor. Nesse momento ela correu o risco de ter sido esfaqueada, tendo em vista que a pessoa depois de ferida pode entrar no estado de confusão mental e atacar qualquer um que se aproxime, isso porque ele está em módulo de combate de sobrevivência. 

O estresse, assim como a raiva e o ódio, é um evento curioso. Ele oferece muita energia pra alguém se defender e também pra atacar. Humberto Wendling

Por isso é recomendável que quando for socorrer um colega baleado, deve-se retirar a arma da mão dele. Ele pode ainda estar na ação na sua mente e não te reconhecer e acreditar que você é o agressor.

Outro detalhe importante: observem que o policial foi ferido no peito acima próximo do ombro, mesmo assim, todos que chegam estão preocupados com o agressor. Talvez porque o policial seja visto como o invasor naquela situação e todos ali sejam amigos, parentes e vizinhos do agressor. Então acredite, você estará sozinho.

O parceiro demorou a chegar e quando chegou foi conferir o agressor e não fez uma inspeção no parceiro que foi esfaqueado e poderia estar com um sangramento importante com a necessidade de aplicação de gaze e bandagem. Que tal colocar em seus treinamentos essa possibilidade? olhar o parceiro primeiro e ver se ele precisa de algum tipo de ajuda médica?

Após um confronto armado com arma branca ou de fogo é importante que cada um examine o parceiro ou se auto examine para verificar sangramentos importantes, a adrenalina faz com que você fique agitado e não perceba que foi alvejado. 

Caso encontre um sangramento massivo e necessário aplicar o torniquete ou gaze e a bandagem israelense. Use seu kit IFAK sempre, pois você não sabe quando irá precisar dele. Se a lesão for nas extremidades como braços e pernas, aplique o torniquete e em locais onde não seja possível, aplique a a gaze de combate mais pressão e depois a bandagem israelense.

Torniquete o mais alto possível, no braço o mais próximo da axila e na perna o mais próximo da virilha. Em resumo: alto e bem apertado.

Se você não sabe como fazer procure um curso na área com pessoas especializadas e que possam te ensinar isso.

Ressaltamos também a importância de sacar a sua arma em situações adversas não convencionas, como por exemplo recuando, avançando, correndo, andando, deitado, ajoelhado etc.

Se você não treina dessa maneira que tal iniciar alguns treinos dessa forma?

Todos temos uma visão sobre o ocorrido. Que tal nos brindar com a sua nos comentários?

Esse texto foi escrito em parceria com:

Adilson César : Militar da reserva do EB – CEO e Diretor de operações da Tríade – Instrutor de Armamento e Tiro

A Tríade Cursos e Treinamentos é uma empresa privada, fundada no ano de 2008, especializada em cursos e treinamentos, na área operacional e de gestão, para agentes de segurança pública e privada e também para as pessoas que tem o interesse de se capacitar a utilizar uma arma de fogo.

Redes sociais Triade:

Instagram: @triadect

Leia também:

1- QuikClote Combate gauze porque você deve ter em seu kit APH

2- APH de combate – Os cuidados em campo

3- O que você deve saber sobre ferimentos em combate

4- Ferimentos Cortantes – Como sobreviver