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Escrito por:  Sd Guilherme da Silva Kappel

 

Soldado da Policia Militar de Minas gerais a 7 anos.

Contato: ixidormg@yahoo.com.br

A violência e a naturaza humana

A minha vida acadêmica toda eu ouvi frases como: A polícia do Brasil é uma das que mais mata no mundo, ou, Regime militar, não podemos voltar àqueles tempos! aou ainda, A PM tortura, mata, estrangula, bota fogo.

O ser humano usa de violência para seus semelhantes, mas você acha que fazer é o mesmo que falar?

Dizem que Nero ordenou a morte de sua mãe apenas pelo deleite de entender a sua origem, de onde ele teria vindo, e queria ver o útero de sua genitora.

Acredito que ele assim o fez porque não teve coragem de fazer com as próprias mãos.

 

O Que diz a Ciência

De acordo com algumas pesquisas da área de criminologia, menos de 5% da sociedade é homicida, ou seja, somente esse pequeno percentual já matou alguém, isso devido o trauma e o repúdio que o evento causa, além claro de uma forte aversão. Matar não é tão simples quanto parece.

Infelizmente hoje, a mídia, os filmes, os jogos e outros meios de comunicação banalizam a violência como se ela fosse algo natural, cotidiano e sempre crescente. Eu não vejo dessa maneira.

Durante a Idade Média, pessoas eram empaladas em praças públicas enquanto nobres saboreavam refeições ao lado. Romanos apreciavam uma boa gladiatura no Circo Máximo romano.

Pessoas eram queimadas vivas em tochas humanas devido intolerâncias religiosas que após os anos de experiência profissional, eu tenho autoridade para dizer que o cheiro de gente queimada deveria durar dias, e na cidade inteira.

E na história?

Durante a batalha de Stalingrado, houveram dias que mais de 20.000 pessoas perderam suas vidas, isso em um único dia. A expectativa de vida de um soldado soviético nessa batalha era de cerca de 24 horas.

Eu não acredito que a violência tenha se tornado uma epidemia, acredito que inclusive ela tem diminuído em relação a esses períodos da humanidade de turbulência.

O problema é que hoje ela é comercializada, é lucrativa.

Mesmo que as taxas de crimes violentos estejam baixos em uma determinada cidade, o próximo homicídio documentado venderá toneladas de jornal.

Há anos eu não suporto mais ver jornais na televisão, lá escorre sangue pelo seu controle remoto.

Tudo que passa ali eu vivo todos os dias. Têm sangue no meu coturno até agora, sangue de dezenas de pessoas que provavelmente nunca sairão da minha cabeça.

Para mim só mais um serviço

Colher os dados, registrar o boletim de ocorrência e levar todo mundo pra delegacia, ou pelo menos quem sobrou vivo.

As vezes eu fico chateado porque praticamente a minha vida acadêmica toda eu ouvi frases como: “A polícia do Brasil é uma das que mais mata no mundo” – Regime militar, não podemos voltar àqueles tempos! – A PM tortura, mata, estrangula, bota fogo, prende pretos, prende pobres e por aí vai. Mas a imagem que chamou a atenção dos meus olhos hoje foi uma policial militar tentando acalmar uma homicida. Uma mãe que acabara de tentar contra a vida do próprio filho.

Muitas das vezes eu vejo que o universo do policial realmente é diferente do resto da sociedade. O policial entende melhor essas coisas, como é estar em situações assim. Ele entende que tirar a vida de alguém não é algo tão simples como a mídia vulgariza.

Matar alguém não é motivo para se vangloriar, não é lucrativo, não é prazeroso e nem tão pouco uma experiência que traria satisfação a alguém. Muitas das vezes eu penso que em alguns casos, alguns finados vivem para sempre na cabeça dos que ficaram.

Digo isso porque por vezes lembro de pessoas que não estão mais entre nós. De como morreram, o cheiro, o frio do cadáver, essas coisas que só quem está dentro sabe o que é que estou dizendo. Mas hoje achei esse cena no mínimo interessante. Uma policial feminina sendo uma psicóloga. Tentando aliviar o fardo de uma mãe que esfaqueou o filho de forma desesperada. Isso não é profissionalismo, é humanidade.

Falta muito para a sociedade entender que por trás de uma farda sempre existe um ser humano, e talvez um que tenha sentimentos mais profundos que muitos, pelas coisas que viu, que passou e que já foi obrigado a fazer.

A polícia é um lugar onde os sonhos morrem, se desfazem, se afogam. Você presencia famílias se desestruturando. Como todas essas pessoas estariam se tivessem tomado as decisões certas, ou talvez apenas uma decisão mais correta? Será que hoje teríamos mais médicos, professores, educadores, bombeiros, policiais, quem sabe? Bom, para os que vão não importa mais se a Dilma não está mais no poder, se o Trump mandou bombardear a Síria ou se eu escrevo esse texto.

Pois assim como disse Platão: “Somente os mortos verão o fim da guerra.”, é porque os vivos a levarão para sempre dentro deles.

Por vezes gosto de demonstrar o meu cotidiano através de fotos, vídeos e textos, para que as pessoas vejam a realidade fora da mídia, de forma mais crua, menos tendenciosa e do ponto de vista de alguém que vive o problema.

Acredito que o diálogo pode mudar muito.

Quem sabe assim não podemos mudar o mundo pelo menos um pouco, e aos poucos. Precisamos aprender a ser mais tolerantes, nos aguentar mais, amar os próximos. Porque pessoas vêm e vão o tempo todo, então as ame hoje, porque o amanhã é um abismo. 

O que achei interessante é que hoje trabalhamos com dois policiais que estavam estagiando conosco, estão em formação.

Um desses, uma militar, tentava acalmar a mãe, que tinha 63 anos e teria tentado tirar a vida do filho.

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